o mundo não vai se transformar em um cenário paradisíaco com todos os animais e seres humanos em harmonia.
você vai se decepcionar com quem menos espera. e vai decepcionar aqueles que mais ama.
vai envelhecer e ficar cada vez mais perto da morte.
seus familiares, amigos, amores e animais vão morrer.
o planeta vai continuar esquentando e os conflitos serão cada vez mais constantes.
a água vai se tornar cada vez mais escassa e a natureza seguirá sendo destruída pela ganância do ser humano.
é, eu sei. parece horrível, e é.
porque a vida é assim.
mas ao contrário do que parece, esse não é um texto catastrófico, ele é sobre resistência e resiliência - eu sei, eu também não aguento mais essa palavra.
quando fiz o vipassana ano passado a palavra que mais ouvi foi anicca (se pronuncia anitcha), que é basicamente o conceito da impermanência. essa ideia entrou tanto na minha mente que tenho tatuada na minha garganta.
nada dura pra sempre e no momento que passa a existir, também passa a desaparecer. nem mesmo o amor está livre desse destino já que quando não se transforma, acaba.
também existe o dukkha, que é o reconhecimento do sofrimento. veja bem meu bem, não há vida sem sofrimento. é só olhar as notícias e se não quiser, basta olhar janela a fora.
a dor, o sofrimento, o desconforto e o fim iminente é intrínseco à vida.
e o que eu faço com isso?
equanimidade é a capacidade de não reagir emocionalmente seja a dor ou ao prazer. a vida é assim. não é sobre viver de forma passiva ou alimentar a desesperança, mas trabalhar a consciência do que podemos ou não controlar.
não podemos evitar que as doenças que dizimam centenas de vidas surjam de repente - mesmo com todo o avanço científico, assim como não podemos evitar a inevitabilidade do fim. e acho impossível não lembrar do conceito de memento mori.
lembre-se que morrerá
a felicidade contudo também existe. as pessoas que fazem o bem.
aquela doença que foi curada naquela pessoa amada.
aquela promoção no trabalho.
a viagem dos sonhos.
o encontro com o amor da sua vida - que pode ser qualquer pessoa em qualquer dinâmica.
o animal que foi resgatado.
a espécie em extinção que foi salva.
como lidamos com essa dicotomia que nos atravessa muitas vezes sem consciência real? com a presença.
estar no momento, no aqui e agora. se o corpo dói, é necessário estar presente. entender onde o incômodo está e o que se pode fazer. se aquele beijo fez seu coração bater mais forte siga presente, e lembre-se que ele também vai acabar.
e o mais importante de tudo: resista.
resista ao sentimento de impotência ao caos. resista à impulsividade de entregar tudo de si no primeiro sinal de paixão. adapte-se aos contratempos.
encare a vida como essa viagem de uma passagem só, onde somos meros expectadores dos acontecimentos externos.
foquemos no que podemos controlar dentro da gente pois isso sim é mutável: podemos transformar a dor em superação e a raiva em combustível.
os fatores externos não devem definir como nos sentimos.
entender que mesmo quando o fogo está consumindo tudo à nossa frente, podemos reagir com força e esperança é o movimento que nos liberta.
há formas de enxergar esperança no caos.
e sim, como eu disse, esse texto é sobre resistência e resiliência.
faça aquele plano de viagem. tenha o filho que deseja ter. faça planos para o futuro. acredite no amor. aposte no que acredita.
a desesperança não é o fim. ela também é, ao final de tudo, anicca.
Amei o conceito de anicca! E fiquei feliz em encontrar mais um substack falando de espiritualidade por aqui 🌟
Obrigada pelo texto 🙏🏼
Boa noite.
Muito interessante o conceito de anicca, é algo com o qual se obtem um equilíbrio frente a tudo caindo e em ruínas na Civilização Contemporânea.